UM BILHÃO DE FAMINTOS
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) prevê que o total de pessoas subnutridas no mundo pode ultrapassar este ano o número recorde de 1 bilhão. O agravamento deste quadro, segundo a instituição, é causado pela crise econômica global, que reduziu a renda e o emprego em todos os continentes, dificultando a vida de milhões de pessoas pobres. Segundo o órgão, esse cenário afasta os governos da meta de reduzir pela metade o total de pessoas com fome no planeta, compromisso assumido pelos países participantes da Cúpula Mundial de Alimentação de 1996.
A fome é a pior das sensações fisiológicas. Estudiosos do tema são quase unânimes em afirmar que a sua origem está na monumental desigualdade da distribuição das riquezas do mundo. Estimativas apontam que a cada 3 segundos uma pessoa morre de fome no planeta.
Na América Latina e no Caribe, a fome aumentou cerca de 13% entre 2008 e 2009. O número de subnutridos na região havia caído de 52 milhões, em 1995-1997, para 45 milhões, em 2004-2005. Em razão da atual crise, que se somou às anteriores (alta nos preços dos alimentos e de energia), o patamar voltou aos 53 milhões em 2009. “Uma mistura perigosa de desaceleração econômica mundial combinada com preços de alimentos obstinadamente altos em muitos países empurrou cerca de 100 milhões de pessoas a mais que no ano passado a uma situação de fome e de pobreza crônica”, disse recentemente, em Roma, na Itália, o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.
Aumento da pobreza extremaLevantamentos do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmam que entre 55 e 90 milhões de pessoas passarão à condição de pobreza extrema ainda este ano devido à recessão mundial. O documento “Informe sobre Acompanhamento Global 2009: Uma Emergência de Desenvolvimento”, divulgado pelas duas instituições no primeiro semestre, também alerta para o crescimento do desemprego. O estudo também prevê um crescimento da fome no mundo. Acompanhamentos da FAO também apontaram que os alimentos tiveram um aumento de preços considerável desde 2006, cerca de 24%. “A crise silenciosa da fome - que afeta 1/6 da humanidade - representa um sério risco para a segurança e a paz mundial. Precisamos, urgentemente, criar um consenso amplo sobre a erradicação rápida e completa da fome no mundo e partir para as ações necessárias”, acrescentou Jacques Diouf.
A fome no BrasilNão há consenso sobre um número total de pessoas que passam fome no Brasil. Segundo o último levantamento do IBGE, em 34,8% das residências brasileiras foi verificada uma situação de insegurança alimentar (leve, moderada ou grave). Estimativas apontam que ainda existem no País mais de 44 milhões de pessoas ameaçadas. O economista e professor Marcelo Neri, diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), acredita que um quadro definitivo da influência da crise financeira global sobre pobreza no Brasil só será alcançado após o lançamento da próxima Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). “O que temos atualmente são algumas estimativas, principalmente tomando por base a renda do trabalho, que está longe de ser um panorama definitivo. Esse indicativo pode ser acompanhado com relativa velocidade nas áreas metropolitanas e revela que a pobreza não aumentou muito de junho de 2008 a julho de 2009, principalmente no 1º semestre deste ano. A pequena variação foi, até certo ponto, surpreendente.”
Para o economista e coordenador da organização não-governamental Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, João Guerreiro, estamos vivendo a pior crise econômica mundial dos últimos 80 anos, mas “a política de transferência direta de renda (notadamente do conhecido Programa Bolsa Família) implementada pelo governo, a partir de 2003, acoplada a uma política de recuperação do poder de compra do salário mínimo (base das aposentarias rurais e urbanas) provocaram (e provocam) um fator anticíclico. Ou seja, neste momento de crise global de escassez de crédito e de investimentos privados, a política de combate à pobreza (não confundir com uma política social universal) acaba sustentando o poder de compra da camada mais fragilizada. Se, por um lado, a crise não provocou o aumento da fome, por outro, está levando um número além do esperado de famílias a pressionarem o poder público para obter proteção social. E a grande incógnita é o quanto este ‘colchão’ provocado pela política pública de transferência direta de renda será eficaz para neutralizar os efeitos da crise. A crise não aumentou a fome no Brasil, mas está provocando uma diminuição do ritmo de recuperação da renda das classes D e E”.
Otimismo
Números divulgados por instituições governamentais informam uma diminuição do número de brasileiros abaixo da linha da miséria. “Estes dados vêm sendo corroborados por análises acadêmicas e de pesquisadores não alinhados ao governo atual. E nos mostram que a renda do segmento mais pobre cresceu mais rápido do que a renda média nacional. Ocorreu uma redistribuição dos ganhos totais entre as classes sociais. Pode-se afirmar sem qualquer dúvida que mais da metade do aumento da renda do segmento mais pobre foi obtida através do chamado efeito Bolsa Família, ou seja, foi resultado direto dos programas de transferência de renda. Por outro lado, vivemos em 2009 a expectativa de como irá se comportar este movimento de diminuição da desigualdade de renda frente à crise financeira global”, analisa João Guerreiro.
Números divulgados por instituições governamentais informam uma diminuição do número de brasileiros abaixo da linha da miséria. “Estes dados vêm sendo corroborados por análises acadêmicas e de pesquisadores não alinhados ao governo atual. E nos mostram que a renda do segmento mais pobre cresceu mais rápido do que a renda média nacional. Ocorreu uma redistribuição dos ganhos totais entre as classes sociais. Pode-se afirmar sem qualquer dúvida que mais da metade do aumento da renda do segmento mais pobre foi obtida através do chamado efeito Bolsa Família, ou seja, foi resultado direto dos programas de transferência de renda. Por outro lado, vivemos em 2009 a expectativa de como irá se comportar este movimento de diminuição da desigualdade de renda frente à crise financeira global”, analisa João Guerreiro.
Em 2007-2008, uma crise na produção e no nível dos estoques gerou, consequentemente, uma alta nos preços de diversos alimentos, entre eles o trigo e o milho, levando vários países a adotar restrições no consumo. Na época, autoridades já alertavam para o aumento dos índices de fome, subnutrição e miséria no mundo. “Existe um componente nesta crise financeira global que ainda precisa ser acompanhado mais detalhadamente. Recentemente, os preços dos alimentos apresentaram algumas variações, mas, antes, voltaram a subir na mesma proporção do primeiro semestre do ano passado”, avalia o economista Marcelo Neri.
Programa Fome Zero Cartão Bolsa FamíliaO governo federal criou, em 2003, o “Programa Fome Zero”, em substituição ao “Programa Comunidade Solidária” para combater a fome e a miséria. Ele foi instituído em três frentes: um conjunto de políticas públicas; a construção participativa de uma Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; e um grande mutirão envolvendo as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) e todos os ministérios. O Fome Zero consiste em um conjunto de dezenas de programas complementares, coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. As iniciativas vão desde a ajuda financeira às famílias mais pobres (como o Bolsa Família) até a criação de cisternas no sertão nordestino, passando pela alimentação escolar e a construção de restaurantes populares.
O cartão Bolsa Família deve atender este ano quase 12 milhões de famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza, caracterizadas pela renda familiar mensal per capita entre R$ 70 e R$ 140. O valor básico mensal dos benefícios foi reajustado, recentemente, de R$ 62 para R$ 68.
Dia Mundial da AlimentaçãoO Dia Mundial da Alimentação é comemorado em 16 de outubro, desde 1981, em mais de 150 países, com o objetivo de conscientizar a opinião pública sobre questões de nutrição e alimentação. A data assinala ainda a fundação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
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